12 de abr. de 2007

sonhos

O carro dos seus sonhos.
A mulher dos seus sonhos.
A viagem dos seus sonhos.
E acreditem, já cheguei a ponto de escutar “a sanduícheira dos seus sonhos”.
A verdade é que desde muito tempo, os sonhos estiveram relacionados a um conceito de idealização. Em poucas palavras, se é perfeito é um sonho.
John Lennon sabia que “a banda acabou” nunca teria o mesmo impacto de “O sonho acabou”. Tenho pra mim que grande parte do fascínio que temos pelos sonhos vem exatamente do fato de conhecermos tão pouco a respeito deles.
Alguns livros mais caras-de-pau chegam a estabelecer fórmulas.
Sonhar com calvície é sinal de trabalho.
Sonhar com coelhos é sinal de lucratividade.
E, pasmem, sonhar com um caminhão na estrada é sinal de casamento.
(Alguém por favor me explica esse?)
Freud foi mais além ao afirmar que todo sonho é a realização de um desejo.
Mas que o pai da psicanálise não me escute, eu nunca tive o desejo de andar pelado no meio de um shopping center lotado.
Seja como for, uma coisa é certa: nós não temos nenhum controle sobre nossos sonhos. Assim, uma freira pode sonhar com a maior sacanagem do mundo. Um são paulino roxo pode sonhar que está na torcida do Palmeiras. Um cara machão pode sonhar com o Gael Garcia Bernal e por aí vai.
Bom, mas chega de enrolação e vamos direto ao ponto.
Tudo que falei até esse momento tem o único propósito de servir de introdução pra que pudesse contar o sonho que tive essa noite.

Eu tinha sete anos e estudava num colégio aparentemente normal. Minha sala ficava ao lado do banheiro das meninas e, por isso mesmo, tinha um vazamento terrível na parede por trás do quadro negro. Até então nada muito interessante. Mas aos poucos fui me dando conta de um detalhe no mínimo surreal: nesse mesmo colégio estudavam São Pedro, São João, Santo Antônio, Maria, São Jorge e mais um monte de santos católicos. Eles eram crianças como eu, mas cada um já tinha seu pequeno “poderzinho”. Encurtando a história, inventei de me apaixonar pela tal da Maria que fazia questão de espalhar para o colégio inteiro que preferia morrer a ter que beijar um menino. Queria ir pro túmulo virgem, a coitada. Insistente como eu era, fui procurar o Antônio que tinha uma fama enorme de conseguir juntar os meninos e meninas apaixonados. Como era de costume, Antônio sempre cobrava uma taxa que variava de acordo com o grau de dificuldade. Feito isso, Antônio pediu que eu fosse para o campo de futebol que ficava por trás das salas de aula e esperasse por Maria. Matei a aula de matemática e fui para lá. Foi aí que minha vida começou a se complicar. Pro meu azar, Pedrinho também era apaixonado por Maria e acabou sabendo do nosso encontro. Imediatamente, o infeliz providenciou uma chuva daquelas. Parecia o fim do mundo. É claro que com toda aquela água, Maria não se atreveria a me encontrar em canto nenhum. Pra piorar minha situação, quando estou correndo pra fugir da chuva, eis que surge o Diretor da escola com a cara mais braba que eu já vi no mundo. Ao lado dele, estava um menino magrinho e de óculos enorme. Depois fiquei sabendo que foi ele quem entregou pro Diretor que eu não tinha ido pra aula de matemática. Nem fui tirar satisfação, mas tenho certeza que era Judas o nome daquele pirralho com cara de nerd.


Acordei totalmente desnorteado depois de um sonho desses.
Quase num ato de desespero, acabei recorrendo aos tais livros caras-de-pau.
Tinha lá, sonhar com santos é sinal de promoção no emprego.
Sonha com chuva é noivado próximo.
E sonhar com colégio é dificuldade em decidir sobre sua própria vida.
Resumindo: provavelmente essa semana vou ter que escolher entre meu chefe ou minha namorada. Viu, esse negócio de sonho não tem mesmo nexo nenhum.