21 de dez. de 2008

QUE A GENTE SE ENCONTRE EM 2009. (Se você for homem, favor pular para o texto seguinte)

Vou usar o verbo “fuçar” porque junto com “apoquentar” é um dos meus preferidos e tenhos raríssimas opotunidades de empregá-los. Acredito piamente que essa seja uma delas. “Piamente” não é verbo, mas eu também adoro. Voltando. Ontem, antes de dormir, resolvi fuçar minha pasta de SPAM. (Mãe, uma pasta de SPAM é aquele lugar sombrio para onde são enviados os e-mails indesejados). Entre centenas de Enlarge Your Pennis e The Sexiest Girls Ever, encontrei um que me deixou inquieto. Era um cara dizendo que era eu mesmo, só que 40 anos mais velho. Pelos conselhos dele, não tive a menor dúvida. Era eu mesmo. O e-mail se resumia em cinco dicas importantes.

1. Nunca mais coma Cebolitos com Fanta Uva no café da manhã.
2. Quando for atravessar a rua em julho de 2025, não esqueça de olhar para o carro vermelho que vem pela esquerda.
3. Deixe de viadagem e pare de passar tanta porcaria nesse cabelo.
4. Em outubro de 2018, jogue esses números na megasena: (vou omitir os números porque eu não sou imbecil).
5. Aquela menina do elevador estava realmente olhando pra você.

Mas que puto. Por que ele não disse que menina era essa? Como ela era? Que elevador? Que prédio? Que dia? Agora vou ter que encarar todas as meninas, toda vez que entrar num elevador. Logo eu que adoro ficar olhando para os meus pés. Isso não está certo. E é por isso que eu estou aqui, agora, escrevendo esse texto. Para fazer um acordo com você. Se por um acaso do destino, você for essa tal menina do elevador, não seja tão discreta no seu olhar. Por favor, exagere um pouco mais. Grite, pule freneticamente, aperte o botão de alarme, dê um tapa no ascensorista. Qualquer coisa para que eu não deixe essa oportunidade passar de novo. E, se assim como eu, você não aguentar esperar até esse tal dia do elevador chegar, eu queria dizer que existem milhares de outras maneiras de eu identificar você. Se seu carro parar do lado do meu, por exemplo, abra o vidro e cante um trechinho da música de Marisa Monte que você está ouvindo no som. Se a gente se cruzar na seção de frigoríficos do supermercado, olhe pra mim e pergunte “você já experimentou esse Chandelle de Creme de Papaya com Cassis?”. E a melhor de todas. Se você estiver em Pipa nesse reveillon, quando der meia noite em ponto, ali na praia principal quase em frente à pastelaria, se aproxime de mim, bote suas duas mãos no meu rosto e diga apenas “sou eu”. O resto deixa que eu faço.

4 de dez. de 2008

um texto sem o menor valor literário

Hoje digitei as seguintes palavras no google “loirinha, bonita, simpática e que fale francês”. Tudo assim, entre aspas. Para minha surpresa, o google não encontrou nenhum resultado. Ou seja, vou ter que me casar com uma qualquer.

21 de nov. de 2008

Infelizmente, uma história real

Assim que vi Tâmara, 5 anos de idade, tentando vestir sua boneca com uma saia que claramente não cabia nela, eu sabia que levaria meses para esquecer aquela cena. Fazer uma visita à Casa de Apoio à Criança com Câncer tinha um significado todo especial pra mim. Daquele dia em diante, eu estava disposto a me tornar uma pessoa, digamos assim, com mais compaixão na alma. Sabia que o mundo precisava dessas coisas. O que eu não sabia era que eu estava totalmente despreparado para isso. Enquanto eu estava ali observando a menina, aproximou-se de mim uma voluntária da Casa, que percebendo minha curiosidade pela criança, contou-me sem fazer rodeios que os médicos não deram mais do que três meses de vida para Tâmara. E eu, que sempre acreditei que as pessoas só morriam depois de terem osteoporose ou implantarem uma ponte de safena, fique parado sem reação nenhuma. À medida que ia sentindo meus olhos se encherem de lágrimas, pensava em como a vida era traiçoeira para algumas pessoas. Era injusto demais imaginar que aquela menina, de apenas 5 anos de idade iria partir dessa vida sem nunca se preocupar com uma espinha que nasceu no seu rosto. Nunca iria bater um carro ou puxar a perninha do 0 pra ele virar um 9 no boletim. Não iria saber o que é amar duas pessoas ao mesmo tempo. O que é tomar a Pílula do dia seguinte ou fazer o teste de gravidez na farmácia, morrendo de ansiedade. Não iria ter um jantar romântico. Não iria ter um celular para colocar no silencioso quando entrasse no cinema. Nem iria ganhar apelidos na escola como Cabeção, Olivia Palito, Mosquito, Maçaneta. Não iria ter miopia, astigmatismo, nem muito menos catapora. Não iria ver duas copas do mundo. Não iria saber que 17:30 é a hora mais triste do planeta, principalmente quando é um domingo. Não iria aprender a traduzir a letra de “Yesterday” na aula de inglês, nem descobrir que Je t’aime é “Eu te amo” em francês. Não iria fazer uma maquete de uma estação de tratamento de água para a feira de ciências. Não iria saber que logaritmos é um dos assuntos mais chatos da matemática. Não iria ter medo de pouso e de decolagem, nem muito menos iria odiar barrinhas de cereais. Tâmara nunca iria saber o que realmente significam cinco anos. Na cabeça de uma criança, cinco anos talvez sejam muito tempo. Mas foi pouco para quem viu seu sorriso, seus olhos e seu jeitinho de dizer “posso ir no banheiro?”. E apesar de tudo isso, apesar de toda a tristeza que eu sentia, Tâmara continuava ali sentada no banquinho, jurando que aquela saia vai conseguir entrar na sua boneca.

10 de jun. de 2008

12 de junho

Em 12 de junho de 1931, dois tenentes da aeronáutica
embarcaram num vôo do Rio para São Paulo,
levando a bordo duas cartas comuns.
Era a primeira vez na história desse país
que uma correspondência seria transportada pelo ar.
Como naquele dia o vento estava muito forte,
a viagem durou bem mais do que o esperado.
Os dois tenentes chegaram tarde da noite em Sampa,
e como estava escuro acabaram pousando no lugar errado.
Resolveram então pegar um táxi até a Central dos Correios
onde finalmente puderam deixar as benditas cartas.
E sabe pra que tudo isso? Pra porra nenhuma.
Quantas pessoas sabem que depois desse episódio,
12 de junho virou oficialmente o Dia do Correio Aéreo Nacional?
Tá certo que grande parte disso é culpa dos Shoppings
Centers e das operadoras de telefone que, preocupados em
vender cada vez mais, fazem filmes lindos para
o Dia dos Namorados e esquecem do nosso estimado
Correio Aéreo Nacional. Esse órgão tão importante para
o nosso…o nosso…o nosso…o nosso espaço aéreo, claro.
Agora vamos aonde eu quero chegar com tudo isso.
Se você está aí solteira, abandonada em casa,
assistindo Um Lugar Chamado Notting Hill e tomando
sozinha um pote de Haagen Dazs de Macadamia.
Puta da vida porque hoje é 12 de junho e você
não tem motivo nenhum para comemorar,
está mais que na hora de mudar essa história.
Levante sua cabeça, estufe seu peito e sinta
um orgulho enorme pelo dia de hoje.
Chame seus amigos e suas amigas solteiras e vá
imediatamente para um barzinho mais próximo
Ergam seus copos e brindem ao nosso grande,
único e incomparável Correio Aéreo Nacional.
É o mínimo que se pode fazer para homenagear
esse homens que desde 1931 atravessam o céu,
levando suas cartas para lá e para cá do país.
Assim, eu espero que de hoje em diante
seus 12 de junho nunca mais sejam os mesmos.
E tenho dito.

4 de mai. de 2008

antes de entrar no elevador verifique se o mesmo encontra-se parado neste andar

Lembro daquela noite de quinta-feira.
Enquanto saía pela porta do apartamento, olhei para trás
a tempo de ver minha mãe resmungando baixinho:
Esse namoro não vai dar certo. Mas não vai mesmo.
Duas semanas depois e o som do quarto
tocando a versão acústica de “Deslizes” do Fagner denunciam:
A profecia materna havia se concretizado. Ora merda!
Como não podia deixar de ser, logo começa o drama existencial:
Por que eu sou tão teimoso?
Por que eu nunca escuto ninguém?
Ou principalmente: por que eu sempre me fodo no final?
Cansei, cansei, cansei. É preciso mudar.
Um life-turning-point, para soar mais inovador.
De agora em diante, não decidirei mais nada sozinho.
Escutarei atentamente todos os conselhos.
Especialmente os que comecem com “se eu fosse você”.
Onde houver um aviso, um alerta, uma orientação
Lá estarei eu pronto para obedecê-los.
Afinal, eles existem para que alguma coisa não dê errado.
Assim sendo, não vou mais dirigir acima dos 80 km/h.
Vou sorrir quando estiver sendo filmado.
Vou esperar 5 minutos com o condicionador no cabelo.
E depois enxaguarei em abundância.
Vou lembrar que os objetos no retrovisor parecem
mais longe do que realmente estão.
Vou comprar um livro que me ensine a ser um marido exemplar,
um executivo bem-sucedido e um touro indomável na cama.
Vou seguir os 10 mandamentos e vou esperar a bateria
do celular descarregar completamente.
Vou fazer silêncio no corredor do hospital.
Vou ler o manual antes de usar o aparelho.
E vou ter muito cuidado com o recheio quente
da torta de maçã da MC Donald´s.
Quem sabe assim, eu não colecione mais tantos erros,
não precise ouvir Fagner outra vez nessa vida,
nem leve uma queda quanto entrar no elevador.
.

27 de mar. de 2008

72

Quando eu digo sofrer de uma certa obsessão mórbida,
o “mórbida” em questão não é só uma força de expressão.
Agora mesmo, encontrei esse tal site na internet.
Que promete dizer com precisão a data do meu falecimento.
É só responder algumas poucas perguntas, apertar o “enviar”,
e aguardar cerca de 10 segundos, não sem uma certa suadeira no mouse.
Pronto. Tá lá o dia da sua partida. O dia do “The End”.
Antes que você pergunte, eu me adianto:
Não, não vejo mal nenhum nisso. Do fundo do meu coração.
Nunca tive medo de morrer. Muito pelo contrário.
Sempre achei a morte uma coisa fascinante.
E, pelo visto, a humanidade inteira parece concordar comigo.
Abaixo seguem as provas.
Primeiro, qual é o símbolo máximo da igreja católica?
Exatamente, a cruz. O Lugar em que Cristo morreu.
Vê se alguém tem em casa uma manjedoura pendurada na parede da sala.
Continuando...
Por que não se reza uma missa sete dias depois que a pessoa nasce?
Por que existe uma valsa fúnebre e nenhuma trilha para o nascimento?
Por que o túmulo do Jim Morrison é mais visitado que a maternidade da Edith Piaf?
Eu respondo. Porque morrer desperta mais curiosidade do que nascer.
Duvido muito que uma roda de curiosos se formaria na rua pra ver uma mulher parindo na calçada.
Compare os filmes então.
Para falar de nascimento, besteiróis do tipo: Três solteirões e um bebê, Uma babá quase perfeita, Ninguém Segura esse Bebê.
Já para falar de morte, clássicos como: Morte em Veneza, A Morte lhe Cai Bem, O Morro do Ventos Uivantes (hihihi).
Sem falar na indústria literária, que emplaca best-sellers como:
1000 lugares para conhecer antes de morrer.
Se mudassem o nome para “1000 lugares para conhecer depois de nascer”, o livro não teria vendido nem 150 exemplares.
Sim e antes que eu me esqueça.
De acordo com o tal site lá, eu viverei até os 72. Uffa.
Deve ser por isso que estou falando tão tranquilo assim sobre o assunto.
Certeza.
Se a previsão fosse para antes dos 30 anos,
esse texto provavelmente seria sobre outra coisa.
Como o feriado da semana santa ou a importância das tupperwares.

17 de fev. de 2008

malditos eufemismos

- Pára Luiz Otávio, pára, pááára.
- O que foi dessa vez?
- Eu não consigo fazer amor assim. Não adianta.
- Assim como?
- Assim. Com você olhando pra toda a decoração do quarto menos pra mim.
- Eu estou fazendo isso?
- Você olha pro criado-mudo, olha pra infiltração na parede, olha até pro cesto de roupas sujas.
- Mas querida, a gente não podia parar agora. Eu já estava quase lá.
- Lá onde Luiz Otávio? Na persiana da janela?! Pra mim tem que ter olhos nos olhos, senão a coisa não acontece.
- Olha Ana, se você quer mesmo saber, eu conto. Mas depois não venha me mandar dormir no sofá ou na área de serviço.
- To esperando.
- Tem uma coisa em você que está me incomodando. É esse negócio aí em cima da sua boca. Pronto, disse.
- Meu nariz?
- Não. Entre ele e a boca.
- O meu buço? O que tem meu buço?
- Não sei dizer direito, mas parece que eu estou transando com a Frida Kahlo ou o Fidel Castro. É um lance meio brochante. É melhor a gente ir dormir.
- Ah, mas não vai mesmo. Agora você vai me explicar essa história direitinho.
- Eu tenho um bloqueio natural contra mulheres de bigode. Deve ser um trauma de infância. Só pode. Vai ver meus pais faziam ameaças do tipo “tome toda a vitamina de banana senão a mulher de bigode vem te pegar.”
- O certo é buço. Mulher tem buço, não bigode.
- Pra mim buço é só um jeito carinhoso de chamar bigode. Puro eufemismo. E o seu está cada dia maior.
- Mas por que você nunca me falou disso antes?
- É uma coisa difícil de se dizer. E além do mais, você só começou com essa mania de transar com a luz acesa há pouco tempo.
- Quer saber, pra mim tudo isso é uma desculpa. Você não tem mais atração por mim e fica querendo botar a culpa na porra de um buço.
- Não é frescura, Ana. Quer ver só: qual a comida que eu mais odeio na vida?
- Pata de caranguejo.
- Exatamente. Você nunca parou pra pensar que ela é cheia de cabelinhos?
- Meu Deus. Isso é uma doença.
- O que custa passar a gilete, me diga? Em 2 minutinhos ta resolvido.
- É só que aí cresce mais grosso.
- Qual o problema? Se a idéia é não deixar crescer nunca. Faz todo dia, oras.
- Olha, vamos dormir que é melhor. Amanhã, a gente conversa sobre isso. Me dá pelo menos um beijo de boa noite.
- Posso apagar a luz antes?

23 de jan. de 2008

um chinelo velho, um pé cansado.

Eu não consigo escrever sobre algumas coisas.
Escrever sobre coisas feias, por exemplo.
Fico com a sensação de que, por pior que seja a palavra,
Ela nunca é ruim o suficiente. Vai entender.
Falar sobre coisas bonitas é tarefa mais fácil.
Basta um “choque entre o azul e o cacho de acácias”
e pronto. Você já sabe que a dita cuja é linda.
Mas como alguém conseguiria descrever aquela mulher
que vi no supermercado na última noite de terça-feira?
A história do “choque” já seria um bom começo,
mas nesse caso seria um choque entre dois caminhões
carregados de rabanete, beterraba e fruta-pão.
Coisa triste de se ver mesmo.
Imediatamente, me veio a pergunta:
Alguém teria coragem de beijar essa mulher?
Quatro dias depois, enquanto dirigia de volta para casa,
vi um homem atravessando a rua. O sujeito era tão feio,
mas tão feio que se eu tivesse passado por cima teria feito
um enorme favor a ele e a toda a humanidade.
Foi quando pensei sozinho: taí, esse cara beijaria.
E ainda ia achar que estava fazendo o melhor negócio do mundo.
A conclusão que tirei disso tudo é um tanto óbvia:
Pra cada pessoa no mundo, existem seus correspondentes.
Coloquei “correspondentes” no plural, porque não sou muito adepto
dessa história de alma gêmea. Acredito mais na combinação de gostos.
Gente estranha gosta de gente estranha, gente alegre gosta
de gente alegre, gente bonita gosta de gente bonita.
(com exceção de gente bonita que gosta de gente feia milionária).
E é exatamente essa diversidade de gostos que move a economia,
que deixa o mundo mais intrigante, que faz o matuto lá
do interior de Pernambuco achar sua vizinha sem dentes
mais bonita que a Charlize Theron.
Eu odeio tutano de boi. Mas tenho certeza que existem por aí
milhares de pessoas que se matariam por um prato de tutano.
Então se você se acha uma pessoa sem graça, tímida
e ruim em matemática fique sabendo que milhares de seres humanos
gostam de pessoas sem graça, tímidas e ruins em matemática.
E assim ninguém nunca vai ser só nesse mundo.
Porque afinal existe gosto pra tudo.
Até mesmo praquela mulher do supermercado.