12 de abr. de 2007

será que ele é?

De: Eduardo Feitosa
Para: Pedro Eugênio
Enviado: sexta-feira, 10 de novembro de 2006 19:49:00
Assunto: Será que ele é?


Pedro, só estou mandando esse e-mail porque a situação em que me encontro chegou a níveis insuportáveis. E como você é uma pessoa diretamente envolvida no problema em questão, achei por bem descontar um pouco dessa raiva. Olha, eu sei que não existe frescura entre a gente, então vou direto ao ponto. Quando você me pediu para hospedar um amigo seu aqui em casa, eu nem pensei duas vezes. Aceitei na mesma hora. Amigo seu é amigo meu e sabia que esse cara tinha dado uma baita força durante todo esse tempo que você está morando aí no sul do país. Acontece que o Ivan já está instalado aqui em casa há quase um mês. E pelo andamento das coisas, ele não pretende ir embora tão cedo. Fica o tempo todo repetindo que o nordeste é maravilhoso, que as praias são lindas e que os salva-vidas são fantásticos. Nunca tinha entendido bem essa última observação, mas cada vez ela tem ficado mais clara para mim. Em todos esse dias que o Ivan está aqui, nunca falou de nenhuma mulher que não fosse sua mãe ou sua babá de infância. Claro que não dei muita importância pra isso, mas com o passar dos dias foram acontecendo coisas que estão me deixando temeroso. Essa noite minha namorada dormiu aqui em casa, nada demais até aí. Mas você acredita que no café da manhã o Ivan chegou pra mim e disse que eu devia ter sido mais carinhoso com ela durante a noite. O desgraçado ouviu tudo: as conversas, as risadas, os gemidos. E vem me dizer que eu não devia ter dormido logo, devia ter sido mais compreensivo e mostrado pra minha namorada que eu não estava interessado apenas no sexo. Sinceramente Pedrão, isso não é coisa de homem que se preze. Lembro bem que você sempre dizia que achava minha namorada uma maravilha e que se ela desse corda você passava o rodo. Isso sim que é amigo, isso sim que é ser homem. Dia desses comprei uma cerveja pra tomar com ele aqui em casa e o cara mandou eu esperar um pouco. Saiu de casa bem rapidinho e voltou com duas garrafas de chá gelado dizendo que agora sim estava pronto pra me acompanhar. Porra Pedrão isso é coisa de frango, fiquei até constrangido de tomar as cervejas. Fico imaginando essa cara num estádio de futebol. Ou melhor, prefiro nem imaginar. Outro dia ele veio com uma conversa de que foi para uma boate gay só pra conhecer o ambiente. Hahahahah, esse papo pra cima de mim? To agüentando mais não Pedoca, o cara agora se despede de mim dizendo “xêro na bunda”. Ah vá pra merda, nunca dei essas intimidades. O engraçado é que ele nunca deixava o banheiro fedendo. Porra Pedro, quantas vezes você não me xingava por ter usado seu banheiro e impregnado a casa toda? Isso sim é coisa de homem. Mas com ele não. Ou o cara não faz necessidades ou então fica no banheiro abanando até o cheiro se dissipar. Comecei a ler um livro sobre a psicologia da sexualidade e porra, tenho certeza, as informações batem. O livro diz que algumas atitudes repetitivas podem esconder um desejo sexual reprimido. E sabe qual foi minha grande descoberta? O Ivan sempre entra em casa pela porta dos fundos. Entendeu a relação? Homossexualidade e porta dos fundos? Hein, hein. Não quero que você me veja como alguém preconceituoso nem nada, mas poxa eu sei lá se de noite ele está entrando no meu quarto pra me ver dormindo. Juro que penso nessas coisas. É uma questão de privacidade mesmo. E pra não dizer que eu to me garantindo só na psicologia, resolvi adotar a técnica mais infalível já inventada até hoje. Ontem à noite, cheguei em casa e o Ivan não estava. Como sabia que ele chegaria em pouco tempo, me escondi atrás da geladeira. Minha idéia era dar um susto enorme nele, porque você sabe que as pessoas se entregam na hora do susto. Pedrão, têm cenas na vida da gente que são impossíveis de descrever e com certeza essa foi uma delas. O cara deu escândalo, fez chilique, esperneou e ainda chamou o nome de quatro santos seguidos. Enfim, não restam mais dúvidas. Hoje de manhã, ele deixou um bilhete na geladeira dizendo que queria ter uma conversa séria comigo de noite. Estou com medo dele me encostar na parede e dizer que me ama. Por isso, arrumei minhas malas bem rápido e vou sair de casa. Queria saber se podia passar um tempo contigo aí no sul. Prometo que levo cerveja. Abraços. Eduardo.