12 de abr. de 2007

o ciúme e a flecha preta

Deixa eu contar a minha história e depois você tira suas conclusões.
Tenho quarenta e sete anos e faz exatos trinta minutos que minha mulher saiu pela porta da minha casa jurando nunca mais voltar.
Digo “minha” casa porque foi comprada com meu dinheiro e meu suor.
Por isso não vejo razão nenhuma para dizer “nossa”.
Outro detalhe importante: também não tenho mais amigos.
E quer saber? Estou bem melhor assim.
Não preciso mais emprestar meus cds, meus dvds, meu carro.
Prefiro a morte do que imaginar meu cd do Bob Dylan em alguma casa que não a minha.
Não é exagero, é apenas um zelo excessivo.
Um zelo excessivo pelas coisas e pelas pessoas.
Principalmente, pela minha mulher.
Cheguei a criar até uma filosofia:
O único homem que tem que falar dela sou eu.
O único homem do qual ela tem que falar também sou eu.
E aí vou tentando aplicar essa teoria na prática.
Quando assistíamos a um filme, ela sempre ficava encantada com a beleza do ator. O que eu fiz? Passei a alugar só filmes do Mazzaropi.
Acabaram-se as discussões sobre Santoro, Cruise, Clooney.
Outra atitude que me ajudou bastante:
Para nunca ter ciúmes de um vizinho, comprei a minha casa e aluguei a do lado.
Assim tenho a certeza de que ela nunca estará ocupada.
Acontece que algumas situações acabam fugindo do meu controle.
Dia desses, fomos para uma sessão de regressão e acabei descobrindo que em sua vida passada, lá por meados do século XV, minha esposa era amante de um membro da alta corte francesa.
Fiquei possesso.
Eu não conseguia aceitar esse tipo de traição.
Acho que passamos uns vintes dias sem nos falar direito.
Mas aos poucos, eu vinha tentando ser um cara mais compreensivo.
O problema é que ela tinha essa mania, sabe, essa obsessão terrível.
De ser sempre a mulher mais bonita da festa. A que atraísse todos os olhares.
Um dia, confesso que passei dos limites e num ataque imenso de ciúmes coloquei vinagre no pote de shampoo.
Espero que você entenda que não fiz por maldade.
Meu pensamento era de que com um cabelo ruim, ela não chamaria tanta atenção. Poxa, ela não podia ir na padaria sem se vestir como quem vai para um casamento.
Bom, agora que você conhece os fatos espero que entenda que tive meus motivos para agir assim.
Hoje, sou uma pessoa extremamente feliz.
Não tenho mais do que sentir ciúmes.
Estou mais leve.
Minha mãe contava uma história que talvez ajude você a entender minha personalidade.
Ela dizia que quando eu tinha cinco anos e meu irmãozinho nasceu,
eu cheguei em seu ouvido e disse “Mãe: ou ele ou eu.”