11 de dez. de 2007

a separação, o metrô e o rim.

Dizem que a maior dor que uma mulher sente na vida é dor do parto.
E que a pior dor sentida por um homem é a dor de uma pedra no rim.
Como nunca passei por nenhuma delas, afirmo com toda convicção desse mundo que a maior dor que senti até hoje foi a dor da separação.
Separar de alguém que a gente não ama já é difícil,
Imagine então de quem a gente ainda morre de amor.
Não é nada fácil, você provavelmente deve saber.
É como se deitar numa cama de casal e acordar numa de solteiro.
Você estava acostumado com o espaço ao seu lado e, de repente, precisa se acostumar tudo de novo para não levar um tombo daqueles no meio da noite.
Mas a separação que dói mesmo é aquela que vem de surpresa.
Quando sem mais nem menos, tei buff, tudo se acaba.
Vou recorrer a uma metáfora que, provavelmente, vai dificultar o seu entendimento, mas melhorar em muito a estética desse texto.
Imagine um casal que há mais de 20 anos se encontra na mesma estação de metrô para, depois de um longo dia de trabalho, voltarem juntos para casa. Agora imagine que num belo dia, quando estão prestes a entrarem no vagão, a mulher se vira para o seu marido e diz que simplesmente não pode mais ir com ele. Que daquele momento em diante, ele precisa se acostumar a ir sozinho para casa. Que a estação dela agora é outra. Até logo. Adeus.
A porta se fecha. O metrô começa a andar.
Atordoado, o pobre coitado corre feito um louco até o último vagão só para prolongar por mais alguns segundos a visão da mulher que ficara na plataforma. Ele encosta as mãos no vidro da janela e, feito uma criança, se põe a chorar. À essas alturas, talvez sua mulher já tenha até se arrependido de sua decisão. Mas é tarde demais. O metrô nunca volta pra pegar um passageiro atrasado. Inconsolado, pensativo e vazio, ele se senta no lugar de sempre. Agora porém, está sozinho. Assim, sempre de cabeça baixa, ele mal percebe as centenas de pessoas que vão entrando e saindo do metrô a cada estação. Algumas delas, vendo a cara de desolação do pobre homem, chegam a puxar assunto na tentativa de reanimá-lo. Mas tentam em vão. Ele está preocupado apenas em olhar pela janela, na tentativa de ver sua mulher em qualquer uma das próximas estações. E assim, ele segue viagem. Mesmo sabendo que o mais certo, era descer na próxima parada e ir andando para casa. É mais ou menos assim que eu vejo uma separação. Claro que no sentido real, ela é bem mais dolorosa do que essa metáfora. Ai, ai, como eu preferia uma pedra no rim.