12 de abr. de 2007

saudades de você, peter pan

Quanto mais velho eu fico, mais saudades tenho de quando era criança.
Saudades das coisas bestas, que são sempre as que doem mais.
De quando jurava que havia um funcionário anão dentro do caixa eletrônico.
De quando palavrão era “Caracas” ou sua sonora derivação “Carácolis!”
De quando ouvia “Dancing Queen” e ficava imediatamente apaixonado.
De quando acreditava que havia uma lua e um sol para cada cidade.
De quando inconstitucionalissimamente era a maior palavra do mundo.
De quando minha mãe deixava eu abrir o yakult no meio do supermercado.
Deus sabe como queria passar por isso de novo. Não do mesmo jeito, claro.
Dessa vez daria uma atenção especial às coisas antes sem importância.
“Se eu pudesse voltar a viver, começaria a andar descalço no começo da primavera e continuaria assim até o fim do outono”, disse o grande poeta.
Não sei o que anda acontecendo, mas nesses últimos dias tenho pensado muito em saudade. Não só de quando era criança, mas saudade de tudo.
De pessoas, de lugares, de olhos e de croissants.
É quando me pego querendo reviver uma coisa que já não posso mais.
“Querer” inclusive é o verbo mais usado por quem sofre de saudades.
Quase sempre no seu pretérito imperfeito, donde se tem: Queria.
Queria que ela ainda me amasse como antes.
Queria que ainda fosse carnaval de 1985.
Queria que meu peixe ainda estivesse vivo.
Queria que ela ainda escrevesse nossos nomes na árvore.
Como sempre, Adriana consegue explicar melhor que eu:
Saudade é quando o momento tenta fugir da lembrança para acontecer de novo e não consegue.
E, por favor, não me venha com essa história de que sentir saudade é bom.
Pode até ser, de vez em quando, mas a danada foi feita mesmo é pra doer.
Vai ver é por isso que não se vive de saudade. Apenas se morre dela.
O problema é que algumas saudades matam mais do que outras.
É o caso da saudade ao contrário. Aquela que vem antes da hora de vir.
Antes de a gente partir, antes de alguém ir embora, antes do temido adeus.
A pessoa amada ainda está bem ali na nossa frente, mas por uma contradição do destino a gente já tá com saudade dela. Vai entender isso.
Pior é que a saudade ao contrário também acontece com lugares e objetos.
Você pode passar por uma praça cento e cinquenta vezes, mas a última vai ser sempre a mais dolorida. Isso, é claro, se você souber que ela é a última. (Senão, já cai na categoria de saudade convencional)
Será que a prefeitura vai finalmente pintar esses banquinhos?
Será que os passarinhos vão continuar com medo das pessoas?
Será que as coisas vão ser do mesmo jeito quando eu não estiver aqui?
Sentir saudade ao contrário é colocar a carroça na frente dos bois, a prorrogação antes do tempo normal, o amém antes do em nome do pai.
É o rapaz que na véspera de sua amada partir, fica em casa chorando.
Ao invés de aproveitar os últimos instantes ao lado da pessoa querida.
Mas pensando bem, não é algo tão difícil assim de se entender.
Porque sinceramente, acho que nada dói tanto quanto a consciência de se dar o último beijo, o último abraço ou fazer a última declaração de amor.