12 de abr. de 2007

como nascem as piadas

Tinha um alemão, um japonês e um brasileiro. Pronto, é quase certo que vai começar uma piada. Impressionante como funciona a cabeça da gente. Oras, eu podia muito bem estar falando de um assunto sério. Uma reunião importante de uma multinacional onde estariam sentados em volta da mesa, um empresário alemão, um investidor japonês e um engenheiro brasileiro. Mas não adianta, só o fato de começar falando que tinha um alemão, um japonês e um brasileiro, já faz com que a gente pense que uma piada está vindo por aí. É exatamente sobre isso que eu queria falar hoje, quarta-feira sim. Sabe aquela da loira que usou liquid paper na tela do computador? Ou aquela do pintinho que só tinha uma pata, foi ciscar e caiu? Então, muito aqui entre nós, quem porra inventou essas piadas? Você nunca se questionou isso? Piada pra mim é praticamente uma ciência. Ou melhor, é um estilo literário que deveria ser estudado como qualquer outro. Assim, teríamos os autores modernistas, os construtivistas, os romancistas, e, claro, os piadistas. Escrever piada é uma arte acessível para poucos. Todo mundo arranha umas poesias, uns contos, uma letra de música. Mas quantos se arriscam a escrever uma piada? Poucos, muito poucos. Escrever uma piada é saber a hora certa de parar. É não falar nem uma palavra a mais, nem uma a menos. É induzir ao riso, sem ser explicativo demais. Juro que quando era mais novo, eu tinha uma teoria que cada vez me parece mais possível de ser real. Eu acreditava que existiam empresas para criar piadas. Juro. Funcionava mais ou menos assim. Dentro de um enorme galpão todo pintado de branco, centenas de mesinhas com uma pequena luminária se amontoavam uma ao lado da outra. Os estagiários seriam o nível mais baixo da hierarquia. Eram eles quem criavam as piadas mais básicas, especialmente aquelas de cúmulos.
Cúmulo da safadeza: dar em cima da secretária eletrônica.
Cúmulo do Ciúmes: Brigar com a mulher porque ela abriu as pernas na hora do parto.
Cúmulo do Engano: Uma minhoca entrar numa macarronada pensando que é suruba.
Cúmulo do Egoísmo: não vou contar, só eu que sei.
Acima dos estagiários, estariam os trainees. Eles seriam os responsáveis pelas piadas de categorias. Assim, teria o departamento de piadas de loiras, de portugueses, de bêbados, de padres e de argentinos.
Acima dos trainees, estariam os funcionários propriamente dito. Pra esses, não tinha regra. Tudo podia virar piada. Lá no fundo do galpão, numa salinha isolada ficava o departamento de humor negro. Eram de lá que saíam as piadas sobre Senna, Mamonas Assassinas, Lady Di e todo tipo de acidente capaz de chocar a humanidade. Ao lado desse departamento, ficava a sala do presidente. Um senhor sisudo com quase 60 anos, que passava o dia debruçado em números, gráficos, planilhas e pesquisas. Sua mesa era de uma suntuosidade incrível e na parede ao lado de dezenas de certificados, estavam emolduradas as fotos de Juquinha, Joãozinho, Mariazinha e Seu Lunga. Pronto, era assim que eu imaginava uma empresa de piadas. Quando comecei a escrever esse texto, há mais ou menos duas semanas atrás, pensei em desafiar minha pouco habilidade para escrever. Eis o desafio: duas semanas para criar minha própria piada. O resultado foi um fracasso, não consegui inventar nada. Mas aos poucos fui percebendo como pequenas coisas que aconteciam perto de mim, poderiam servir de ponto de partida para alguma piada. Claro que elas precisam ser melhor trabalhadas, mas como começo eu até que gostei do resultado. Acho que você não vai rir de nenhuma, mas juro que tudo aconteceu de verdade. Então lá vai:

Conversa entre eu e meu primo de 7 anos, que tinha mania de estudar com a televisão ligada.

- Rafinha, é verdade que você sabe tudo de história?
- É sim, pode perguntar.
- Então, lá vai: quem descobriu o Brasil?
- Pedro Bial.


No dia posterior a uma enorme orgia alcoólica, resolvo me confessar com minha mãe:

- Poxa, ontem vomitei tanto que estourei até o vaso.
- Affe, meu filho, o banheiro deve ter ficado cheio de cacos.
- Ow mãe, foi o vaso sanguíneo.


Outra de álcool. Eu e uma amiga minha que está deitada na maca após tomar dois tubos de soro e injeções de glicose.

- Cecília, vamo embora que já são seis da manhã.
- Não posso, eu to com fotografia.
- Han?
- É, fotografia. Eu to.
- Com assim Cê?
- Eu não consigo abrir o olho por causa da luz.
- Não será fotofobia?


Uma prima, que apesar seis anos já mostra sintomas de genialidade, depois de ver seu pai tomando banho pelado:

- Mamãe, mamãe, o papai tem um rabo na frente.