4 de mai. de 2008

antes de entrar no elevador verifique se o mesmo encontra-se parado neste andar

Lembro daquela noite de quinta-feira.
Enquanto saía pela porta do apartamento, olhei para trás
a tempo de ver minha mãe resmungando baixinho:
Esse namoro não vai dar certo. Mas não vai mesmo.
Duas semanas depois e o som do quarto
tocando a versão acústica de “Deslizes” do Fagner denunciam:
A profecia materna havia se concretizado. Ora merda!
Como não podia deixar de ser, logo começa o drama existencial:
Por que eu sou tão teimoso?
Por que eu nunca escuto ninguém?
Ou principalmente: por que eu sempre me fodo no final?
Cansei, cansei, cansei. É preciso mudar.
Um life-turning-point, para soar mais inovador.
De agora em diante, não decidirei mais nada sozinho.
Escutarei atentamente todos os conselhos.
Especialmente os que comecem com “se eu fosse você”.
Onde houver um aviso, um alerta, uma orientação
Lá estarei eu pronto para obedecê-los.
Afinal, eles existem para que alguma coisa não dê errado.
Assim sendo, não vou mais dirigir acima dos 80 km/h.
Vou sorrir quando estiver sendo filmado.
Vou esperar 5 minutos com o condicionador no cabelo.
E depois enxaguarei em abundância.
Vou lembrar que os objetos no retrovisor parecem
mais longe do que realmente estão.
Vou comprar um livro que me ensine a ser um marido exemplar,
um executivo bem-sucedido e um touro indomável na cama.
Vou seguir os 10 mandamentos e vou esperar a bateria
do celular descarregar completamente.
Vou fazer silêncio no corredor do hospital.
Vou ler o manual antes de usar o aparelho.
E vou ter muito cuidado com o recheio quente
da torta de maçã da MC Donald´s.
Quem sabe assim, eu não colecione mais tantos erros,
não precise ouvir Fagner outra vez nessa vida,
nem leve uma queda quanto entrar no elevador.
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