26 de jun. de 2007

E se?

Daqui da sacada desse antigo casarão, olhando meus netos brincarem de alguma coisa que não existia na minha época, é inevitável a pergunta: e se?
E se eu não tivesse ido passear na praia naquele domingo de 1920?
E se eu não tivesse me virado para trás, assim, só por instinto mesmo?
E se eu não tivesse visto a Vânia justo na hora que ela mexia no cabelo com aquele jeitinho encantador?
E se a gente não tivesse ido pra cama no final de semana seguinte?
E se a gente não tivesse se casado, tido filhos e, por conseqüência, netos?
Uma coisa é certa: eu não estaria aqui, agora, olhando justamente para eles. Poderiam ser outros netos, claro, mas nunca iguaizinhos a esses.
E se em todos esses 87 anos de vida, eu tivesse tomado decisões diferentes das que acabei tomando?
Se em vez de Letras em Cuba, eu tivesse feito Engenharia em Lisboa.
Se em vez daquela moto, eu tivesse economizado para um carro.
Se em vez da prima Raquel, eu tivesse passado a mão na bunda da prima Kika.
Será que ainda assim minha tia teria me expulsado de casa?
Acredito que não. A Kika era feia, mal amada e pra completar, ainda tinha a bunda pra dentro. Eu teria feito, sim, era uma boa ação pra pobre coitada.
A dedução apesar de soar estranha, é bastante convincente:
O ser humano nada mais é do que a soma de todos “E se?” que nunca aconteceram. Um tanto pessimista, eu admito.
Assim, eu sou o cara que não fez Engenharia em Lisboa, que não comprou um carro e que não passou a mão na bunda da Prima Kika. Uffa.
É como deduzir a personalidade de uma pessoa só pelas coisas que ela joga fora. Se você encontra uma playboy da Paloma Duarte no lixo do morador do 306, por exemplo, ou ele virou frango ou…quer dizer, não tem outra possibilidade não, o cara virou frango mesmo.