20 de nov. de 2007

a menina do assento 16D

Uma turbulênciazinha, por favor.
Uma nuvem escura e chuvosa, vai.
Qualquer coisa que faça esse avião balançar.
Que faça as luzes de emergência se acenderem,
as máscaras de oxigênio caírem automaticamente
e a menina do meu lado segurar a minha mão.
Eu sou uma dessas pessoas que nunca teve a sorte
de sentar ao lado de uma menina bonita no avião.
E olha que oportunidades já tiveram muitas.
Mas logo hoje, aconteceu. E aconteceu com força.
Sou péssimo em descrições, mas vou tentar fazer um esforço.
O sorriso era o da Cameron Diaz, a testa era a da Scarlett Johansson,
o queixo era o da Penélope Cruz e as pernas eram as da Sharapova.
Chego meu corpo um pouco mais perto.
De modo que nossas pernas se toquem.
É incrível como mesmo nessa idade,
a gente ainda tem prazeres com coisas tão insignificantes.
O problema agora é a aproximação. O diálogo inicial.
Avião é um péssimo lugar para se puxar assunto.
O que eu vou perguntar?
Se a barrinha de cereal dela tá gostosa?
Se ela viu aquele avião da TAM que caiu?
Se alguma vez ela precisou usar o saquinho de vômito?
Me inclino um pouco para frente e faço cara de menino carente,
na esperança de que ela se vire para olhar pra mim.
Vai, olha pra mim, olha pra mim, olha pra mim.
Olha pra mim, olha pra mim.
Olha pra mim, cacete.
Nada acontece.
Repentinamente ela se levanta e vai para a frente do avião.
Era a oportunidade que eu tanto esperava.
Na volta, eu juro que vou dizer alguma coisa.
Uma coisa criativa, marcante, romântica.
Que faça ela se lembrar pra sempre desse vôo.
Lá vem minha garota. Linda e maravilhosa.
Para a minha surpresa, é ela quem fala comigo:
- Licença, você se incomoda de trocar de lugar com meu namorado?
É que ele tá sentado lá na frente e a gente queria tanto ficar junto.